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Entrevista com Mario Cintra

Mario Cintra já passou pela Leo Burnett, McCann, Fallon, Loducca e GiovanniFCB. Atualmente está na Talent e dá aulas Long Copy na Miami Ad School/ESPM. Com tantas agências bacanas na bagagem o que não faltam são experiências para compartilhar com a gente. Confira a entrevista.

Boa leitura.


1. Conte um pouco sobre seu início na profissão. Como você conseguiu o primeiro emprego?
Comecei estagiando na Fracta, uma agência que fazia alguns materiais de ponto de venda para a editora Abril, como cartazes de banca de jornal. Eu fazia títulos para esses cartazes, que normalmente eram para as revistas Placar, VIP e Playboy. Não dava pra reclamar dessa parte do trabalho, né? Como a estrutura da agência era enxuta, a gente tinha que fazer de tudo. Por isso também me ensinaram um pouco de Photoshop. Sei apenas o básico, mas já dá pra irritar bem os diretores de arte que trabalham comigo. Depois eu ainda passei por uma agência chamada AR15 – sim, o mesmo nome do fuzil. Só que eu sempre quis trabalhar em agência grande. Ficava lendo o Meio&Mensagem, PropMark, Blue Bus e até acessando os sites das agências pra saber o que tava rolando no mercado. Um dia entrei no site da Giovanni,FCB e vi que eles estavam fazendo uma campanha contra quem deixa o cachorro fazer cocô na rua. Cliquei em algum canto lá e abriu uma janelinha para mandar e-mail. Resolvi escrever um texto sobre o tema e enviar. Um ou dois dias depois, me ligaram da Giovanni dizendo que o Aaron Sutton, diretor de criação da agência, tinha gostado do meu texto e queria que eu fosse lá falar com ele. Gelei. Vesti minha melhor camisa e fui, cheio de noção. Nem lembro se o Aaron chegou a ver minha pasta aquele dia, mas me chamou pra fazer estágio lá. Bendita hora em que enviei aquele texto. Fiquei na Giovanni quase um ano e foi muito legal, mas não fui contratado. Isso só aconteceu um tempo depois, quando eu tava fazendo estágio na Fallon. Os sócios e diretores de criação da agência eram o Eugênio Mohallem e o Marcelo Aragão. Um dia os dois me chamaram numa salinha e me contrataram. Haja coração, amigo.

2. Você é professor de long copy na Miami, certo? Existe uma técnica para este tipo de texto? Qual sua dica sobre o tema?
É, em 2012 o Paulo André me convidou para dar aula de long copy. Não levo muito jeito pra professor, mas tentei encontrar uma forma pra dar essa aula e no final funcionou, os alunos gostaram. Eu acho que muita gente que tá começando não dá o devido valor ao texto. Pega lá o filme “Loucos”, da Apple. O filme “Hitler”, da Folha. O primeiro filme da campanha “Impossible is Nothing”, da Adidas. Ou mesmo “Dumb Ways to Die”. Em todos eles, o texto é fundamental. Acho que é legal prestar atenção nisso. Revi muita coisa pra dar a aula e, pô, um bom texto não envelhece. Mesmo que a mídia impressa morra, o texto vai sobreviver. Fora que hoje em dia é até moderno fazer uma boa campanha de texto: as pessoas compartilham, se envolvem, comentam. No ano passado mesmo teve uma campanha brilhante da F/Nazca pra Leica. Um pouco antes, eles tinham feito #coisadaboa pra Nike, que também tem um texto sensacional. Há um tempinho teve aquele anúncio “Você nunca vai fazer 28”, da Almap, e neste ano eles fizeram o “deslançamento” da Kombi, que vem forte. Enfim, eu tentei mostrar na aula que, dentre as várias opções que um redator tem para dar forma a uma ideia, o long copy pode ser um ótimo recurso – como nesses exemplos que eu citei. Quanto à técnica para escrever, acho que ajuda ter claro na cabeça qual é a ideia do seu texto. Aí você apresenta, desenvolve e conclui essa ideia, de forma que responda o briefing e seja interessante. Texto longo não pode ser sinônimo de texto chato. Não adianta fazer um textão que ninguém quer ler. Ouvi em algum lugar um negócio que faz muito sentido. O raciocínio era mais ou menos assim: quando uma pessoa decide investir o tempo dela pra prestar atenção em uma propaganda, ela quer alguma coisa em troca. Uma reflexão, um sorriso, algum tipo de recompensa. Porque, hoje em dia, ninguém mais é obrigado a ver propaganda. Nosso trabalho é fazer esse tempo investido valer a pena. E isso não vale só para textos longos. Aliás, isso não vale só para propaganda.

3. Como é o seu processo criativo?
Nunca pensei muito nisso e não sei se dá pra chamar de “processo criativo”, mas vamos lá. Eu gosto de pensar escrevendo. Começo anotando os principais pontos do briefing. Depois vou listando algumas palavras e frases que tenham a ver com o que eu preciso falar. Se eu tô com a cabeça na Lua, isso é bom pra eu ir me sintonizando no job. Aí, em algum momento, que não pode demorar muito, espera-se que comecem a sair os raciocínios que vão virar conceitos, títulos, roteiros. Eu prefiro pensar um pouco sozinho antes de sentar para criar com meu dupla. Acho que, quando os dois pensam separadamente primeiro, a gente já chega aquecido e fica menos tempo patinando quando se junta. Então, depois que os dois já entraram no job, a gente discute, pensa junto e decide quais são as melhores ideias para mostrar para os diretores de criação. Tudo isso, claro, quando o prazo permite. Muitas vezes o jeito é sentar, botar o fone de ouvido e sair fazendo. Outra coisa que eu procuro fazer na hora de criar é desenvolver várias opções. Funciona pra mim, não significa que vá servir pra todo mundo. Tento fazer bastante opção por três motivos: 1) eu me obrigo a achar caminhos diferentes; 2) quanto mais opções houver para comparar, mais fácil de identificar qual delas é realmente a melhor – ou a menos pior; 3) tenho mais chances de acertar e, portanto, menos chances de precisar refazer o job. Apesar dessa descrição quase matemática que eu fiz, na prática é um verdadeiro caos. Mas você se acostuma.

4. O que realmente importa na hora de avaliar a pasta de um candidato a estágio?
Em primeiro lugar, é claro que são as ideias. Em segundo lugar, acho que é a viabilidade delas. Tem algumas ideias de aplicativos que são tão complexas que eu não sei se o cara quer uma vaga na Criação ou na área de TI. Não que eu seja contra aplicativos e afins, apenas acho que eles tem que ter um mensagem clara e pertinente. Em terceiro lugar, acho legal ter uma pasta equilibrada. Tudo bem ter ações e coisas muito loucas, projetos pessoais, a piração que for. Mas é bom ter também uns anúncios, títulos, roteiros. Digo isso porque as agências precisam de estagiários que consigam ajudar resolvendo os trabalhos que forem passados para eles. E, no dia-a-dia da agência, a gente ainda recebe mais jobs do tipo “o cliente conseguiu uma parceria com a rádio e precisa de um texto-cabine” do que do tipo “o cliente conseguiu uma parceria com a NASA e precisa de um holograma em espiral”. Porém, eu acho também que a sua pasta tem que ter a sua cara. A decisão final do que você vai por lá é sua.

5. Quem você mais admira na profissão? Por quê?
Admiro todos os envolvidos na criação, aprovação e produção do filme da Volvo com o Jean Claude Van Damme, começando pelo próprio Jean Claude Van Damme. Fora isso, sempre fui fã do Eugênio Mohallem. O trabalho dele, além de ser absurdamente bom, tem um estilo, uma personalidade. Admiro muito isso. O Marcelo Aragão é outro redator que eu acho brilhante, ganhou trocentas vezes o Profissionais do Ano, fez campanhas incríveis em todas as agências que passou. Fico muito feliz de ter trabalhado com esses dois monstros. O João Livi, que é meu chefe hoje, também é um cara que eu admiro. Ele tem uma preocupação especial com o conceito das campanhas, dá pra perceber isso claramente analisando a consistência do trabalho da Talent. Também gosto muito do trabalho do Wilson Mateos, Andre Kassu, Fabio Fernandes, Renato Simões, Rynaldo Gondim, Marcelo Nogueira, Alexandre Scaff, André Godoi, Pernil… Putz, não vou lembrar de todo mundo. Tenho tido a sorte de trabalhar com muita gente boa, todos os meus diretores de criação me ajudaram e me ensinaram muito. Mas não posso deixar de citar o Ruy Lindenberg, com quem trabalhei por quase 5 anos na Leo. Se alguém não conhece o trabalho do Ruy como redator, é o caso de dar um Google. Para se ter uma ideia, ele escreveu um texto para um filme de Visa que aparece na internet atribuído ao Dalai Lama. Só isso. Quando o Ruy entrou para o Hall da Fama do CCSP, o Roberto Pereira escreveu no anuário um texto que começa assim: “Eu gostaria de escrever igual ao Ruy”. Se alguém não conhece o trabalho do Roberto Pereira, é o caso de dar outro Google. Enfim, o Ruy Lindenberg é um dos maiores redatores da história da propaganda brasileira e tenho orgulho de ter feito parte da equipe dele. Ah, tem outra pessoa que eu admiro. Aquela pessoa, de sei-lá-qual departamento, que sem você perceber ajuda a deixar o estressante dia-a-dia na agência um pouco mais leve, mais alegre. Aquela pessoa que, quando está trabalhando com você, faz diferença. E, quando não está, faz falta.

6. Acredito que todos que acompanham o blog lembram da campanha do Prisma, do conceito “seu primeiro grande carro” e do filme repleto de referências bacanas. Conte um pouco sobre essa campanha. Ela marcou o segmento de automóveis e seu portfólio, né?
Pois é, outro dia eu e o Adriano Alarcon, que era meu dupla na McCann nessa época, estávamos conversando sobre isso. A campanha do Prisma já tem oito anos e as pessoas ainda comentam, o que é muito legal. Bom, pelo que me lembro, esse era um job muito importante para a agência, que estava começando uma nova fase liderada pela Adriana Cury, e para o cliente, que apostava bastante nesse lançamento para conquistar um novo público e dar uma modernizada na imagem da marca. Como o job era bem grande, havia duas duplas envolvidas: uma era o Adriano Alarcon e eu, a outra era a Fernanda Machado e o Eric Sulzer. Nós trabalhamos juntos. O Danilo Janjácomo, diretor de criação, e a Adriana também se envolveram desde o início. Fomos todos pegar o briefing no campo de provas da GM, onde testamos o Prisma. No começo era tudo meio sigiloso, a gente tinha que chamar o carro por um nome código, essas coisas. Foi nessa primeira reunião que eu cheguei no conceito “Seu primeiro carrão”. Fizemos depois outras reuniões na agência envolvendo a equipe de internet da McCann, que era muito boa. O Marcelo Pignatari e o Max Chanan faziam parte desse grupo, mas infelizmente não vou lembrar o nome de todo mundo. Foi numa dessas reuniões que adaptamos o conceito para “Seu primeiro grande carro” e que surgiu o tema “Sua vida trouxe você até aqui”. Mas faltava achar uma forma pra isso. Estávamos trabalhando num fim de semana (é fácil lembrar da data porque foi no dia da final da Copa de 2006) e aí tivemos essa ideia: mostrar um rapaz que representasse o público-alvo do carro sendo “empurrando” até o Prisma por personagens que fizeram parte de diferentes fases da vida dele. Todo mundo acreditou na ideia, principalmente o cliente. Aí a agência chamou uma art buyer que ficou responsável exclusivamente por negociar os direitos dos personagens. A gente fez uma lista e ela foi vendo o que era viável. Alguns dos que a gente queria eram muito caros, como o Darth Vader. Ainda bem que conseguimos vários legais, como o Chucky, o Scooby-Doo e o Homem de Marshmallow – o meu favorito. Depois que essa parte foi definida, o Miro fez as fotos da campanha e o Manguinha dirigiu o filme. Os dois contribuíram muito para que o resultado ficasse tão bom. Lembro que o Adriano entrou em êxtase acompanhando as fotos do Miro. Todo mundo deu o máximo para botar a campanha de pé e no final ela realmente chamou atenção e fez bastante sucesso. Fazer parte de um projeto tão grande foi sem dúvida uma ótima experiência pra mim. Até porque eu gosto muito de atender conta de carro e continuei nessa pegada quando saí da McCann: fui pra Leo Burnett e fiz bastante coisa para a Fiat, um melhores clientes com que eu já trabalhei.

7. Se você estivesse começando na profissão hoje o que perguntaria para o Mario Cintra, redator da Talent, e qual seria sua resposta?
Eu acredito que todo mundo que está começando quer saber o que fazer para achar o seu espaço numa boa agência. A minha resposta é simples: não sei. Calma, na verdade acho que é uma combinação de sorte e talento. A sorte não dá para controlar, mas o talento você pode ir lapidando para buscar a sua vaga. Eu sugiro estudar os anuários do Clube de Criação, conhecer os trabalhos das principais agências e, principalmente, pegar o telefone e encher o saco do pessoal para ver a sua pasta. Às vezes não vai dar certo, mas garanto que tem muita gente legal que vai dar a atenção que você merece. Você depende dessas pessoas: são elas que vão enxergar o seu potencial e te indicar em algum lugar logo de cara ou ajudar você a melhorar o seu trabalho e te indicar em algum lugar um pouco depois. Por isso é bom ouvir as opiniões dos profissionais mais experientes para ir moldando a sua pasta. A boa notícia para quem ainda não achou uma vaga é que é normal ser difícil. Não desanime. A má notícia é que manter a sua vaga é ainda mais difícil. Então, nunca se acomode. Meu conselho final é o seguinte: se você der uma entrevista um dia, evite falar muita besteira. Não sei se eu consegui.

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Mario Cintra
Redator da Talent


Campanha do Prisma citada na entrevista:

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10 redatores para você ficar de olho em 2014

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1 – John Mescall (McCann Melbourne)
Redator, Diretor de Criação da McCann Melbourne e responsável por “Dumb Ways to Die”, campanha que mais faturou leões no festival de Cannes em 2013. Foram 5 Grand Prix, 18 Gold, 3 Silver e 2 Bronze. Não vai ser nada fácil para o John superar 2013, mas mesmo assim ele está no topo da nossa lista. Fique de olho.
Portfólio: não encontramos.

2 – PJ Pereira (Pereira & O’Deall)
PJ Pereira tem tudo para continuar conduzindo sua agência, a Pereira & O’Dell, pelo caminho dos prêmios. Isso porque depois de levar 3 GPs em Cannes 2013, com o case “The Beauty Inside” para a Intel e a Toshiba, a agência surpreende a cada novo trabalho, como no “The Born Friends Family Portrait”, para o Skype. Por essas e outras, em 2014, é bom ficar ligado nos trabalhos em que o PJ estiver envolvido.
Portfólio: não encontramos.

3 – Hugo Veiga (AKQA London)
Depois de abocanhar nada menos do que 19 Leões só com o case “Real Beauty Sketches“, da Dove, e terminar 2013 como o redator mais premiado no festival, segundo o Cannes Report, Hugo Veiga vê os holofotes da publicidade mundial apontando para seus futuros trabalhos, agora ele está na AKQA de Londres.
Portfólio: diegodelaveiga.com/

4 – Fabio Seidl (Lapiz/Leo Burnett)
O redator e também Diretor de Criação deixou a Ogilvy Brasil para se tornar VP de Criação na Lapiz/Leo Burnett de Chicago. Se por aqui ele já arrebentava nos festivais, imagine agora com uma criação inteira nas mãos.
Portfólio: fabioseidl.com/works/

5 – João Caetano Brasil (Leo Burnett Tailor Made)
João, um dos criativos do premiado “Meu sangue é rubro-negro” para o Esporte Clube Vitória, tem tudo para fazer de 2014 um puta ano na Leo Burnett Tailor Made, já que agora tornou-se Diretor de Criação. João Caetano Brasil terminou 2013 como o 5º redator mais premiado em Cannes, segundo o Cannes Report.
Portfólio: joaocaetano.com.br/

6 – Erick Mendonça (Leo Burnett Tailor Made)
2013 foi um ótimo ano para Erick Mendonça em Cannes. Além de ser um dos Young Lions brasileiros, Erick faturou 5 leões e terminou o festival como o 10º redator mais premiado, sendo o terceiro brasileiro melhor colocado. Também participou do case “Meu sangue é rubro-negro”.
Portfólio: cargocollective.com/erickmendonca

7 – Thiago Carvalho (F/Nazca)
Só o roteiro do premiado “Soul“, para a Leica, seria o suficiente para a gente ficar de olho no criativo em 2014. Mas ele também desenvolveu outros excelentes trabalhos durante o ano, como o filme “Bra x Sil”, para a Nike. Pesquise esses trabalhos e fique de olho no redator.
Portfólio: cargocollective.com/thiagocarvalho

8 – Sophie Schoenburg (AlmapBBDO)
Prata da casa na Almap, Sophie é referência para qualquer ano. Em 2012 levou prata em Cannes para o Getty Images, com o filme “From Love to Bingo“. Em 2013, levou ouro com o “85 segundos”. E se tudo der certo, em 2014 ela leva o GP, rs.
Portfólio: não encontramos.

9 – Toni Fernandes (F/Nazca)
Depois da passagem pela Lew’Lara\TBWA, onde teve como último trabalho o hit “Ex-Maguila” para a Revista GQ, Toni está emplacando cada vez mais peças na F/Nazca. Se o ritmo continuar assim 2014 será o ano. Afinal, ele e seu dupla não param de pôr coisa boa na rua.
Portfólio: cargocollective.com/toni_leonardo

10 – Rodrigo Resende (AlmapBBDO)
Rodrigo Resende é redator na AlmapBBDO e o Young Lions responsável por representar o Brasil na competição de 2013. Ano em que também faturou um leão de bronze em Mobile.
Portfólio: rodrigoresende.net

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Comente o que achou da lista.
Você já conhecia esses redatores? Segue o trabalho de cada um.

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Um obrigado para o redator Bruno Mattheus, que depois de muita conversa nos ajudou a chegar nos 10 nomes.

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Entrevista com André Kassu

Começou na Artplan e hoje é diretor de criação da AlmapBBDO. Entre lá e cá foi o redator mais premiado no festival de Cannes 2010. Criou o Pode Ser?, o Vai Que, faturou um GP e, em meio a tanto trabalho, conseguiu um tempo para participar do blog. Valeu Kassu!

Confira a entrevista e boa aula.


1. Conte um pouco sobre seu início na profissão. Você começou no Rio e se mudou para São Paulo, certo?
Eu comecei na Artplan do Rio de Janeiro. E dei muita sorte nesse início. Porque o meu dupla de estágio era o Guilherme Jahara, hoje diretor de criação da DM9. O Chiquinho Luchinni era um dos redatores e praticamente adotou a gente. Na Artplan, trabalhei sob o comando do Toninho Lima, depois do Marcos Apóstolo e do Chico Abreia. Foram 6 anos de agência. Em um determinado tempo, eu comecei a rodar a pasta em São Paulo. Coloquei na cabeça que queria mudar de mercado. Mostrei a pasta para o Ricardo Freire, Marcelo Aragão, Wilson Mateos. E fui criando por meio do olhar de quem via a pasta, de pessoas que eu admirava, um outro filtro das peças. Até que surgiu o convite para a equipe da F/Nazca S&S do Rio. Para atender exclusivamente a Telemar. Ao lado da Elisa Guimarães. O convite veio pelo próprio Fabio Fernandes, que conheceu o meu trabalho pelo Victor Sant’anna e pelo Wilson. Fiquei 1 ano praticamente com a Telemar e fui transferido para São Paulo. Foram 8 anos de F/Nazca. Um aprendizado que mudou toda a minha carreira. Devo muito ao Fabio e ao Edu Lima. Era tudo muito intenso. A equipe em um certo momento era composta de 3 duplas. Uma doideira. Edu Martins, Nobre, Victor, Lincoln, Marcão Monteiro. O Marcão virou meu dupla depois de 2 anos. Éramos muito afinados e hoje somos compadres.
A Almap surgiu no meio das minhas férias. O Marcão Medeiros me ligou dizendo que tinha uma vaga para duplar com ele. Voltei de férias e em 1 dia estava de frente com o Marcello Serpa. E claro, quem não gostaria de trabalhar com ele? Era a chance de trabalhar com o Dulcídio e o Luizinho. De me testar em outra agência. De saber se o meu trabalho funcionaria. De aprender muito com o Marcello. Fora que é um lugar onde você olha para o lado e vê todos os nomes do anuário juntos. Hoje, tenho 3 anos e meio de Almap. Aconteceu muita coisa em pouco tempo. Coisas que eu jamais imaginava que ocorreriam. E muito disso veio pelo fato de o Marcão e eu termos criado afinidade muito rápido. Sou caótico, ele, organizado. E funciona. Fora que é um amigo para a vida toda.

2. Em 2010, você publicou um texto no CCSP chamado O título sumiu. Ainda acredita que os títulos andam esquecidos?
Acho. E, pior, acho que boa parte da nova geração não escreve bem. E aí, não estou falando só de título. Falo de diálogos de filmes, do ato de roteirizar, de texto cabine, spots de rádio, de conceituar. A ferramenta básica de um redator é a escrita. Eu, simplesmente, não acredito em redatores que têm dificuldades com texto. Na minha defesa ao título não está uma atitude contra as novas tecnologias, nem nada. Só não acho que ele tem que ser extinto sumariamente. Grandes títulos continuam sendo grande propaganda.

3. O que muda do André Kassu redator para o diretor de criação?
Eu vou criar menos. Isso já deu para perceber em 2 semanas. É inevitável. Mas o que me norteou como forma de trabalhar não muda. Acredito em persistência, em tentar de vários jeitos, em zero estrelismo, em respeitar as pessoas a sua volta. Se eu tinha esse cuidado como redator, vou redobrar como diretor de criação. Hoje é o que consigo responder sobre uma função que estou aprendendo.

4. O que realmente importa na hora de avaliar a pasta de um candidato a estágio?
Boas ideias. A única coisa que não mudou na história da propaganda até hoje foi isso. Somente grandes ideias sobrevivem ao tempo. Já tivemos o tempo do Photoshop. Hoje a gente olha e acha uma bobagem. O que sobrevive e não envelhece? Grandes conceitos. Só um cuidado que eu acho que a pasta tem que ter: equilíbrio e mais tiros longos do que isolados. Prefiro ver uma pasta com 5 campanhas de 4 anúncios do que 20 peças isoladas. Não dá para ter uma pasta só de ações, nem só de títulos. E acho estranho redator com pasta inteira visual, também. Sempre volto para uma tecla básica: redator tem que saber escrever.

5. Qual seria a sua dica para um estagiário criar um bom título?
Muita coisa boa de título já foi criada. Acho que o primeiro passo é tentar novas formulações. Muitas vezes, você chega em uma ideia de título e não perde tempo suficiente testando como funciona melhor. Eu tendo a achar que o título, quando falado em voz alta, tem que soar natural. Como um comentário possível.
Eu já trabalhei e trabalho ao lado de grandes tituleiros. E uma coisa posso dizer que eles têm em comum: fazem muito, testam diferentes formas e leem bastante.
A verdade é que um bom título é simples. E, por isso, é tão complicado fazer um.

6. Neil Ferreira, Roberto Pereira e Fábio Fernandes. Quais outros redatores servem de referência para quem está começando?
No meu texto, “O título sumiu” tem uma boa lista de redatores que foram referências pessoais. O que eu acho importante é olhar para diferentes estilos de redação. Desde os mais tradicionais aos que arriscam tudo. Dos mais emocionais aos que destilam ironia. Agora, inegavelmente o Fábio Fernandes e o Edu Lima foram decisivos na minha formação. E, pelo trabalho brilhante e por razões afetivas, estão no topo da minha lista de redação.

7. Após o sucesso da campanha da Billboard, você foi convidado para escrever uma coluna na revista, certo? Vamos ler sobre propaganda ou Rock’n’Roll?
A coluna da Billboard é uma chance de não escrever profissionalmente. O assunto será música, apenas. A primeira coluna foi bem difícil. Não sabia nem como começar. Conversei um pouco com o editor, Pedro Só, que tem um texto que eu adoro, e acertei uma direção. Eu sou muito desorganizado para escrever e ter um compromisso mensal vai me forçar a ser mais metódico. A curiosidade é que o convite para escrever para a Billboard nasceu do anúncio da morte falando sobre a maldição dos 27 anos. O Antonio Camarotti, cliente e amigo Billboard, já vinha falando sobre essa possibilidade. E eu, com receio, fingia que não ouvia. Até que resolvi encarar. Vamos ver no que dá.

8. O filme Byafra fez um enorme sucesso e não passou por pesquisas. Isso prova que uma boa ideia ainda está acima de tudo?
Se o filme do Byafra tivesse passado por uma rodada de pesquisa, ele não sairia vivo. Já escrevi sobre isso uma vez: coloca o programa dos Trapalhões na pesquisa para ver o que sobra. Simpsons, Tom & Jerry, Pica-Pau. Você pode destruir qualquer um desses grandes sucessos em um focus group. Não sou contra a pesquisa como suporte da ideia de uma campanha. Sou contra a pesquisa medrosa. Que tenta prever tudo que pode dar errado. Dessas pesquisas, costumam sair ideias que não são nem tão ruins, nem tão boas. São moderadas, apenas. Não é à toa que o cara que fica dentro da sala de pesquisa é um moderador.
Nesse ponto, Byafra é um sucesso pela coragem do cliente Bradesco Seguros. Pela ousadia. Por confiar que valia o risco. E hoje, precisamos de clientes assim tanto ou quanto grandes ideias.

9. Se você estivesse começando na profissão hoje, o que perguntaria para o André Kassu, diretor de criação da AlmapBBDO, e qual seria sua resposta?
Que conselhos você daria para alguém que está começando? Sentar e fazer. Ainda não inventaram maneira melhor de mostrar que você tem um bom trabalho do que fazendo um bom trabalho.

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André Kassu
Diretor de criação da AlmapBBDO

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A Nike, a olimpíada e um texto piada

Com a atual situação do Brasil nas olimpíadas e com a derrota no futebol masculino para a Argentina, o apelo dos anúncios abaixos passaram de emocional para humorísticos na minha opinião, é claro. Pois é, por esta nenhum redator esperava. Agora me pergunto, será que hoje eles escreveriam o mesmo texto?


P.S.: Nada contra os textos criados pela F/Nazca, mas acho que com a derrota brasileira eles ficaram meio fora de forma, assim como o Ronaldinho.

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All type para Penalty | Post Duplo

A Z+ faz um excelente trabalho para a Penalty. Para mim, o posicionamento criado pela agência para a marca é o principal motivo do seu sucesso. A partir do mote: patrocinadora oficial do seu jogo, a Penalty voltou com tudo ao mercado, sem contar que os anúncios são muitos criativos.

Deixando os elogios de lado confira este anúncio de oportunidade criado pela agência. Achei sensacional o título, principalmente o final que diz: ‘Dá orgulho de ver vocês suando nossa camisa.’


Comentário: ninguém vai concordar, mas acho esta campanha da Z+ a melhor de 2007.

COMERCIAL DA CLARO | Post Duplo – Parte 2
Comercial indicado pela jornalista Camille, leitora oficial o blog. Se você ainda não viu na TV assista, muito criativo e bonitinho!

Título: Mágoa
Cliente: Claro
Agência: F/Nazca